terça-feira, 19 de agosto de 2008

Boa noite e obrigado

Um puxão numa pulseira, sorrisos como retribuição, o corpo sobre a relva, harmonias esvoaçantes. Imagens soltas na minha mente, que com centenas de outras forma o meu Andanças.

O meu Andanças começou em Novembro, as folhas “caíam novamente da minha arvore” e o meu rosto possuía aquele ar sisudo, que habitualmente me habita. No entanto este começava a ser iluminado por novos sorrisos, novas fontes de energia que fariam as minhas folhas novamente crescer. E o mais belo desses sorrisos presenteou-me com uma descrição. Neste lugarzinho a que chamamos mundo existiria um local, onde durante uma semana a terra do nunca se materializava. Milhares de crianças de qualquer idade juntavam-se e partilhavam, um sem número de músicas, historias, danças e brilhos no olhar…

Meses se passaram e as reticencias foram ficando mais carregadas, por vezes quase sou curado do meu síndrome de Peter Pan, a minha mente começou a tomar conta de todas as sensações, e comecei a pensar que o Andanças seria apenas, algo engraçado.

No entanto existem dias em que o meu coração se ergue, desmantela todo racionalismo e põe a nu o que realmente sou. Um desses dias é aquele em que o cravo se torna a mais bela flor, fui comemorá-lo para a cidade dos mil sonhos, e em plena Avenida dos aliados uma banda dava um concerto que me deixou colado.

“São Uxu kalhus, costumam estar no Andanças, olha estão aqui algumas pessoas que também costumam a lá estar!”. Nessa tarde apenas observei com vários sentidos, senti o espírito que havia naquelas pessoas, a beleza da música que era tocada, só convidei a minha alma para dançar, e ela aceitou.

Quando voltei a dar por mim, já estava em São Pedro do sul, bebendo uma super bock, sentado numa bomba de gasolina, à espera da carrinha que me levaria aquilo com que na noite anterior tinha sonhado acordado. Observava dezenas de pessoas belas, inclusive um jovem que foi apelidado de Natura e do qual falarei noutro dia, noutro trecho. Uma calma quase digna de um estado de ataraxia invadia-me, tornava-me tela onde seria pincelado um sorriso.

De seguida veio uma semana que adoraria saber passar para o papel na perfeição. Não sou capaz, por isso o meu espírito apenas me dá permissão para revelar que a cada minuto vislumbrava coisas cada vez mais belas. Uma paz reinava naquela aldeia, onde milhares de pessoas tinham resolvido se encontrar para, serem felizes.

Esculturas em movimento eram elaboradas com grande precisão a cada dança. Notas eram conjugadas, de modo a criarem músicas com o poder de levitar todas as almas e estas surgiam não só nos palcos, mas também nos jardins, na cantina ou noutro local onde estivessem alguém e algo capaz de produzir som. Abraços eram dados sem receio. A fogueira indicava o caminho para histórias que transportavam qualquer um de volta aos seus 5 anos.

Estava realmente ali a terra do nunca, tinha voltado a ser criança e a sensação era algo de maravilhoso. Um dia, a meio da semana fui ao espelho e a tal tela em que me tinha transformado, já havia sido pintada, possuía o mais belo dos sorrisos que fora construído por muitas pessoas que de diferentes formas amei, naqueles dias.

Com a maior parte dessas pessoas quase não troquei palavras, a excepção de três que repeti imensas vezes, enquanto cumpria o meu voluntariado. Partilhei imenso com tantos seres lindíssimos que habitaram carvalhais naquela semana, mas apenas três palavras foram comuns a todos eles. Todos me ouviram dizer:

Boa noite e obrigado!